Oi, Marlon,
é um prazer recebê-lo aqui. Quando o Maurício me mostrou seu resumo pensei: que menino ousado! E adorei.
Fiz graduação em música e convivia muito, naquela época, com artistas de todos os campos, e era explícita uma vontade - que devo confessar também foi minha em alguns momentos de fraqueza - de pensar que a arte estava acima de tudo, que tinha valor quando fosse pura. Santa ingenuidade, Batman... ainda bem que cresci.
A ideia da arte pura não é diferente da separação que fazemos entre o que se como e a origem e/ou o processo pelo qual isso chegou ao nosso prato. Existe uma necessidade de se manter uma cultura elitista e a arte contemporânea, por mais que muitos artistas de fora da elite lutem por um lugar ao sol nessa seara, continua sendo da elite. Elite cultural não é igual a elite financeira, mas é bem parecida.
Existe um jogo de poder sobre de quem é a arte e que me faz lembrar do fascínio que muitos tem - e eu também, embora me recuse a comprar - por móveis de madeira maciça, como os enormes troncos usados como esculturas no Shopping Dom Pedro, em Campinas, SP.
Minha impressão é que, sem mudar a sociedade como um todo, uma sociedade que se funda na fragmentação, na oposição entre a opulência e a miséria, não sairemos dessa difícil posição de adorar objetos que sabemos serem profanos frente à natureza e, outros, frente à própria humanidade, como os ginásios hipermodernos que vemos no Catar para a Copa do Mundo e que existem graças à morte de centenas de trabalhadores.
Obrigada,
Abraços
Ana