Simone,
que alegria ver seu trabalho. De fato, como professora da UFMG, a inclusão de pessoas com deficiências é um desafio constante. Sempre senti que deveria ter algo que ainda não fiz, sempre busquei aprender para que meu material fosse acessível, mas sempre me senti devendo. Por conta de um diagnóstico recebido em fevereiro deste ano, quando descobri que sou autista, consegui compreender que eu também, tanto quanto os meus alunos especiais, preciso de apoio em algumas incursões para que não termine o semestre devendo. É muito difícil na universidade ouvirmos um professor dizer que tem uma deficiência, especialmente se ele conseguir escondê-la, mas isso não ajuda, sabe? Por isso, a primeira coisa que fiz ao ter meu diagnóstico foi compartilhar esse novo saber com colegas, reitoria, direção da faculdade, serviço de saúde, pois me parece que a inclusão dos estudantes é dependente da inclusão dos professores. Peço perdão antecipado por ter que listar algumas coisas que não me definem como pessoa, mas mostram quem sou profissionalmente, e explico: se estou formando um aluno autista para que tenha uma profissão e eu escondo que também sou, o que estou fazendo é escrever embaixo da ideia geral de que deficientes são menos capazes. Mas se ele souber que a professora velha de guerra, que por anos foi bolsista do CNPq de Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora e, depois, bolsista de Pesquisa da mesma agência, que fez 2 pós-doutorados, que é hoje titular de uma universidade pública, enfim que se essa professora é autista, ele também pode acreditar que vale a pena lutar pelo que deseja. Não estou dizendo lutar para seguir meu caminho, mas para seguir o dele próprio.
Como você vê isso no ensino básico? Na escola pública?
Abraços,
Ana